O que a fez apostar nesta área profissional?
Eu nasci no mundo dos transportes. A empresa Transumo era do meu pai e eu cresci aqui. Tenho muito boas memórias de andar com o meu pai nos camiões, quando era pequena. Sempre foi um mundo com que eu lidei. A partir dos 16 anos, decidi, por minha opção, estudar à noite, e vir para a empresa, durante o dia, trabalhar com ele.
Quando chegou à empresa, quais eram as suas principais funções?
Eu comecei no Arquivo – o armazenamento das guias dos transportes – mas após começar a trabalhar e estudar à noite, iniciei a parte administrativa. A seguir, fui gerir a parte dos transportes. Fui muitos anos gestora de tráfego. Só larguei esta atividade há cerca de quatro anos, por motivos de tempo. A empresa cresceu e eu não conseguia ter tempo para mim, para a parte administrativa e para a gestão de tráfego, que é muito exigente. Assim, optei por passar esta tarefa a outra pessoa.
Ainda é, porém, a tarefa que mais a desafia?
Sim, sem dúvida. É algo que me desafia e isso dá-me muito gosto. Gerir uma frota implica saber para onde vai cada carro, decidir o melhor percurso, avaliar se existe carga para ambos os trajetos e garantir que aquele é o percurso mais rentável possível para a empresa. Isso é um desafio enorme, que me cativa.
O que considera que mudaria, no setor dos transportes de mercadorias, caso as mulheres tivessem uma presença maior na área?
Noto diferença desde o momento que comecei. Eu lembro-me que, quando comecei, muitos motoristas homens tinham dificuldade em lidar com o facto de serem geridos por uma mulher. Mas depois acabaram por gostar da ideia. Ensinaram-me imenso e sempre me respeitaram. Hoje, este preconceito já não acontece, até porque já existem algumas mulheres a trabalhar como operadoras de tráfego, assim como mulheres a conduzirem camiões – em cada 10 motoristas, uma é mulher. Por isso, acredito que sim, as mulheres estão cada vez mais presentes no mundo dos transportes e os homens, pela sua parte, também encaram isso com normalidade.
Que desafios encontra diariamente, que, dizendo respeito ao setor em geral, acabam por atingir as empresas como a Transumo?
O nosso desafio diário é receber. Após a concretização de um serviço de transporte, há empresas que têm prazos de pagamento que se estendem até aos 90 dias, e a tendência é piorar. Não é comportável pagar o combustível a
15 dias e receber pelo trabalho efetuado 90 dias após o serviço. Isso cria dificuldades na gestão diária da empresa às quais é necessário estar muito atenta. Outro grande desafio é rentabilizar os carros. O nosso objetivo é que, quando um carro sai para uma determinada zona, tenha carga para ir e tenha carga para voltar, de
forma a rentabilizar as duas viagens.
A vida de um camionista é difícil, considerando as condições que encontra na estrada, a nível de infraestruturas, por exemplo, no que respeita à sua higiene e descanso. Além disso, a parte mental é crucial para que o profissional esteja na sua melhor condição para trabalhar. Houve melhoras no aspeto infraestrutural? A nível mental, como classifica o ambiente laboral da Transumo e o quanto isso é importante para que os motoristas se sintam bem a desempenhar as suas funções?
A nível infraestrutural, as condições externas melhoraram bastante, mas ainda não são o que estes profissionais merecem. Na Transumo, todavia, temos uma política que procura assegurar que um motorista não precisa de dormir fora de casa. O nosso objetivo é sempre que o camião regresse ao parque da empresa e que o profissional possa descansar em sua casa. Por vezes, é realmente necessário pernoitarem fora, mas tal acontece uma a duas vezes por mês. Em relação ao bem-estar mental, nós damos prioridade ao bem-estar dos nossos profissionais. Eles são a nossa cara junto dos clientes, por isso importa muito que eles estejam bem, e além disso, isso faz com que verdadeiramente a empresa tenha um ambiente saudável, o que ajuda à estabilidade e produtividade. O nosso pessoal e os nossos clientes são as nossas prioridades. Fazemos questão de que
estejam por dentro de tudo, pedimos opinião, perguntamos como podemos fazer melhor. O objetivo aqui é fazer melhor todos os dias.
Quais são os desafios que, hoje e no futuro, a Transumo terá de enfrentar?
O nosso maior desafio – diário e constante – é manter a qualidade do nosso serviço prestado. Isso faz toda a diferença, porque prestando um serviço de excelência, o cliente não troca. Para um serviço de qualidade contribuem a limpeza do carro, o bom estado do camião, a rota, a educação do motorista, se o transporte foi feito em conformidade, se a carga foi bem acondicionada, se o carro chegou atempadamente ou se chegou atrasado… No fundo, o nosso objetivo é sempre, conforme já mencionei, fazer mais e melhor todos os dias, e é por isso que todos os detalhes contam na relação Sónia Morais com o cliente e com o mercado.