“O papel de CEO pode ser solitário, é importante partilhar experiências”

O percurso profissional de Alexandra Magalhães sempre esteve ligado às áreas da gestão operacional, sustentabilidade e economia circular. Está dedicada à regeneração imobiliária, no Grupo Sarcol. Conheça o ponto de vista sobre o mercado e as mulheres empreendedoras de uma mulher vencedora do EY Entrepeneurial Winning Women 2024.

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Ao longo da sua carreira, teve a oportunidade de desempenhar cargos de relevo em diferentes empresas e áreas de negócio. Que análise faz à sua carreira até ao momento?

Iniciei a minha carreira na Sarcol, na área da implementação de sistemas de Gestão da Qualidade e Ambiente. Esta experiência permitiu-me conhecer profundamente os processos e operações da empresa, fornecendo-me as ferramentas necessárias para assumir, posteriormente, cargos de liderança em diversas áreas, tais como Logística, Produção, RH, Comercial e Financeiro. À medida que assumia novas áreas de negócio, aprofundei os meus conhecimentos académicos através de mestrado, pós-graduação, MBA, e formação complementar, o que me ajudou a fortalecer a minha rede de contactos e criar laços duradouros com profissionais das respetivas áreas. Acompanhei o nascimento de projetos interessantes, como o CLIP, a criação do banco BPI e o lançamento da fundação de Serralves, através da Sarcol na qualidade de uma das empresas fundadoras, bem como a privatização de uma empresa pública – a Aga, numa altura precoce da minha carreira.

O meu ‘shift’ para o que faço atualmente – regeneração imobiliária – ocorreu depois de vender a minha participação na empresa química do grupo. A experiência anterior na área da certificação ambiental trouxera-me uma sensibilidade particular para a importância da sustentabilidade, regeneração e economia circular.

O Núcleo Empresarial Sarcol é, acredito, um exemplo de adaptação imobiliária bem-sucedida. O nosso espaço de eventos Indulgent resultou também de uma recuperação imobiliária que integra a anterior ruína na sua arquitetura, e na sua história, e é precisamente a presença da ruína que cria o ambiente que faz parte do adn deste projeto. A nossa residência de estudantes é outro exemplo de adaptação de um edifício, neste caso de uso residencial, respeitando a traça e criando um uso consentâneo com a tipologia pré-existente. O novo projeto do grupo Sarcol, que se chama FARM, assenta na revitalização de uma quinta no centro do Porto, e visa preservar um ecossistema
de fauna e flora consolidado há mais de 100 anos.

O projeto será alavancado no seu caris rural, integrado num ambiente urbano, visando criar uma comunidade de coworkers, colivers, startups, artistas, e incorporando as necessidades dos vários stakeholders. A Sarcol, para além do papel de promotora do projeto, assumirá a gestão deste ecossistema, incentivando o network e a partilha de conhecimento.

Integra o lote de mulheres vencedoras do EY Entrepreneurial Winning Women 2024. Quão importante foi este reconhecimento?

Tem sido uma experiência muito gratificante, não só pelo apoio oferecido pela EY, mas também pela troca de experiências com outras mulheres desta comunidade, num ambiente de total abertura, apoio mútuo e confidencialidade. O papel de CEO pode ser solitário, por mais que se conte com o apoio da família, e é importante poder refletir em conjunto com outros pares; pertencer a esta comunidade da EY permite-me partilhar inquietações, validar raciocínios e obter apoio em diversas áreas.

Que mensagem deixa às mulheres que queiram iniciar o seu percurso profissional e estejam a planear empreender?

Empreender requer um esforço mental e físico. Penso que quanto mais nos abrimos aos outros, ao mundo em geral, nomeadamente através das viagens e do contacto com outras pessoas, bem como integrando outras comunidades
empresariais e grupos de trabalho diversos, mais valor trazemos ao nosso negócio e às pessoas da nossa empresa, e maior a aprendizagem que levamos para casa, pois as relações profissionais ajudam-nos a crescer emocionalmente e ao nível das relações interpessoais, que por sua vez se reflete na nossa capacidade de relação com a nossa família e amigos.
Por outro lado, desenvolvemos imensos atributos na relação familiar, por exemplo com os nossos filhos trabalhamos a liderança, a paciência, a capacidade de decisão, a capacidade de discernir pelo bem maior, o que também levamos para a esfera profissional.

Diria às mulheres empresárias para não se culpabilizarem se, por vezes, o negócio retirar algum tempo à família, pois o importante é que o tempo em família seja de qualidade, e por vezes quanto mais escasso é, melhor o aproveitamos. Sugiro ainda que procurem encontrar, na sua atividade profissional, objetivos com impacto social, que constituam legados para gerações vindouras. Por fim, aconselharia integrar comunidades empresariais, bem como
a investir em formação contínua, e nesse contexto académico construir redes de apoio que as inspirem e fortaleçam.

O caminho pode ser difícil, mas a satisfação de ver o impacto do seu trabalho contribuir para a sociedade é uma recompensa imensurável.