“O projeto europeu é extremamente exigente e obriga a consensos”

Francisco Assis ocupa atualmente o cargo de eurodeputado, eleito pelo Partido Socialista. Antes, já desempenhou várias funções políticas. O último cargo que exerceu em Portugal foi o de Presidente do Conselho Económico e Social. Para este deputado, o PS sempre teve uma noção muito clara da importância da União Europeia e nunca temeu abordar as questões relacionadas com a Europa, da mesma forma que o faz, ele próprio, nesta entrevista.

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Considera que o PS pode ser considerado o principal impulsionador da presença de Portugal na União Europeia? Que impacto isso teve para o país, até à data?

Creio que o PS pode reivindicar esse título de principal impulsionador da presença de Portugal na Europa, sobretudo devido a Mário Soares. Ele sempre foi um grande defensor da nossa presença ativa na Comunidade Económica Europeia, em primeiro lugar por razões de ordem política (era uma opção que garantiria a consolidação da democracia portuguesa) e depois por razões de ordem económica, porque via nisso uma perspetiva de modernização da nossa economia, uma melhoria do nível de vida das pessoas e prosperidade económica. Mais
tarde, todos os governantes socialistas se mantiveram fiéis a essa linha de orientação.

Num comício afirmou que “os principais inimigos da Europa estão na Europa e são, eles mesmos, europeus”. Considera que uma desagregação interna da União Europeia pode realmente ter lugar, se considerarmos que são forças internas que estão a dificultar o consenso comunitário?

A Europa é um projeto muito exigente e só pode sobreviver se o Centro-Direita e o Centro-Esquerda se entenderem. Estas duas famílias eram os pilares do projeto europeu, assim como os liberais e os Verdes. Se estas famílias políticas não forem capazes de perceber a importância de assegurar alguns entendimentos em matérias de fundo e a nível do modelo de organização política, económica e social da União Europeia, o risco de uma desintegração europeia é real.

No vosso manifesto eleitoral europeu, existem pontos relacionados com “uma Europa para os jovens” e uma UE mais forte para o mundo. Como sugerem concretizá-los?

Do ponto de vista político-económico, estamos a reforçar a nossa articulação com outras zonas do mundo e com outros países – estamos a trabalhar num acordo comercial com o Mercosul – que é essencial para a afirmação externa da União Europeia do ponto de vista económico, comercial e político. Temos de contribuir também para o desenvolvimento de África, que é um continente que é nosso vizinho e que tem um potencial demográfico e económico extraordinário e, em relação à Juventude, uma das respostas que a Europa se propõe dar é ter uma
maior intervenção no tema da habitação.

A segurança e a defesa europeias estão, também, muito em causa atualmente. Seria útil uma aposta reforçada nestas áreas, incluindo a nível económico?

Estamos obrigados a isso. Não há nenhum país, nenhuma potência que possa descurar essa componente. A Europa, durante muitos anos, de certa maneira, delegou essa responsabilidade nos EUA, mas hoje compreende
a importância de valorizar a componente de defesa no âmbito da sua política externa.

António Costa iniciou funções como Presidente do Conselho Europeu. O que espera dele, neste novo cargo político?

Espero que ele contribua para uma boa articulação entre os vários governos europeus. Nós estamos, sob esse ponto de vista, numa fase difícil. Há orientações políticas muito distintas de governo para governo, há alguns governos que se têm vindo a afastar daquilo que designaria por espírito europeu, particularmente os da Hungria e Eslováquia, e há uma clara prevalência de governos de direita sobre os de esquerda. A tarefa de António Costa, no
meu ponto de vista, é a de manter na agenda do Conselho Europeu as principais questões que se colocam hoje à UE e contribuir para que se obtenham os necessários consensos em absoluta fidelidade aos princípios fundadores
do projeto político europeu.