Sandra Eloi – um exemplo de superação baseado na determinação e foco

Sandra Eloi já foi atleta de alta competição e vencedora de vários torneios nas diferentes atividades desportivas que praticou. Destacou-se , de forma particular, no judo e no fitness , tornando-se campeã nacional nesta última. Aos 14 anos tornou-se empresária, aos 16 fundou uma empresa própria e hoje é Naturopata, Pós-graduada em PCN, expert em Nutrição Aplicada à Clínica, Nutrition Coach de Atletas de Alto Rendimento e conferencista internacional, mãe, esposa, avó e uma profissional dedicada na totalidade à saúde e bem-estar físico dos seus pacientes. Continua a acompanhar atletas de alta competição e a exigir-lhes sempre o mesmo empenho que ela própria demonstra nas suas ações. Porque, acredita, nada se consegue sem muito trabalho, foco e dedicação total. Mulher com uma história de vida que a fez crescer rapidamente, Sandra Eloi é o exemplo claro do que é pôr “alma e coração” naquilo que se faz. E Sandra Eloi já fez muita coisa, como poderá descobrir nesta entrevista.

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O seu percurso foi sempre marcado por grandes desafios profissionais. Já foi atleta de alta competição, e já ganhou vários prémios nas atividades físicas que desempenhou…

Sim, passei por várias modalidades desportivas, natação, vólei, andebol, badminton, ginástica aeróbica, judo, equitação, futebol de salão, patinagem artística… Fui federada e competi por algumas, mas o judo e o fitness tomaram-se a minha paixão e dedicação. Gostava de experimentar tudo e fazia tudo com muito empenho.
Diferenciava-me sempre! Logo cedo na escola descobri a minha apetência para o desporto. Tive sempre nota máxima em Educação Física. Acontecia o mesmo com a Música, Arte e Design.

O facto de ser um exemplo de sucesso nas tarefas que desempenha é prova do seu empenho e dedicação?

Posso dizer que sim. Nada se consegue sem empenho e dedicação. Costumo dizer que o que diferencia um atleta de competição, ou um empresário, de outra pessoa é que o atleta ou o empresário arriscou, investiu, não teve medo, avançou para a frente! Na minha opinião todos somos capazes de algo, mas às vezes falta o estímulo, a motivação ou o medo vence… Nesses casos, a pessoa não chega, sequer, a experimentar que é capaz. Cresci a observar isso na minha mãe, que era uma empresária de sucesso. Mulher culta, decidida e aventureira. Admirava com paixão a maneira como conciliava toda a sua vida profissional com a vida familiar. Acompanhei a abertura de empresas novas, observando como o fazia. Percebi desde muito cedo que era possível desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, pois era isso que via em casa: quatro filhos, e o tempo era gerido entre o trabalho – as escolas de música, a escola de condução – e a gestão da casa. Tinha de haver empenho para conciliar tudo! Percebi cedo que queria ser “uma mulher de negócios” como ela!

Como iniciou o seu percurso na alta competição?

A minha história na competição começou com um desafio de uma colega de escola, na altura a minha melhor amiga. Ela andava no judo e desafiou-me a experimentar. Lá fui, gostei e continuei a treinar. Ela acabou por desistir e eu, seis meses depois já estava federada e a ganhar competições! Tinha 10 anos quando fui campeã
da minha categoria pela primeira vez. Depois tomamos o gosto e é isso que queremos sempre que competimos!
Um outro desafio que me levou à competição foi o da minha professora de aeróbica. Na altura, ela era a campeã nacional de fitness e achou que eu tinha potencial para entrar em competição. A competição de fitness tem duas provas, uma prova de ginástica aeróbica, onde temos que executar uma coreografia com exercícios de vários
graus de dificuldade – quanto maior a dificuldade mais pontos. A outra prova, designada de prova plástica, avalia o corpo da atleta, que deve ser escultural, definido e com uma percentagem baixa de gordura, para que todos os músculos sejam visualizados. De facto pareceu-me um bom desafio e mais uma vez não disse que não. Comecei
a fazer algumas competições, como a Taça de Portugal, até chegar ao campeonato nacional. No primeiro campeonato nacional que competimos juntas roubei-lhe o título. Também aqui fui convidada para fazer parte da Federação Portuguesa de Cultura Física e juíza de provas.

Mergulho livre

Como é que as características mentais de um atleta de alta competição podem ser utilizadas para nos tornarmos profissionais de sucesso?

A mente fica somente com um foco, o objetivo! Ganhar, superar, ser o melhor ou ser muito bom em… Não há tempo para queixumes, dores, lamentações ou indecisões. Pensamos muito sozinhos e estas introspeções que fazemos são uma plena ligação do corpo à mente. Eu ficava horas no chão na mesma posição a treinar elasticidade e nesse momento abstraía-me de todos os que estavam no ginásio, era somente eu e o meu eu mental naquele corpo que deveria preparar-se para o objetivo a alcançar. Cheguei a treinar oito horas por dia, com algumas lesões e muito cansaço. Levantava-me muito cedo, para encaixar tudo o que tinha que fazer no dia. Treino matinal, orientar filhos, trabalho, tarefas da casa, marmitas e novamente treinos no fim do dia. No judo os cuidados alimentares também existiam, mas no fitness a disciplina exigia rigor extremo. Rigor à grama! Tudo pesado e contabilizado, até a água. Em competições internacionais, a concorrência é de excelência, por isso temos de ser excelentes! Damos tudo, não importa os sacrifícios ou coisas que gostamos que temos que abdicar. O foco é vencer! Esta maneira de ser, acaba por se espelhar na nossa vida e em tudo o que fazemos, fica enraizado.
Vejo isso nos atletas que sigo, principalmente nos jovens. Os treinos roubam muito tempo dos seus dias, mas conseguem conciliar tudo, nenhum tem más notas, pelo contrário são todos bons alunos. O segredo é não perder
tempo com coisas fúteis! É fácil transportar estas regras para a vida profissional, pois as metas são as mesmas: o que quero? Como devo fazer para chegar lá? O que tenho que investir? Para ficar entre os melhores, o que tenho que fazer? Como me posso diferenciar? Não desperdiçamos tempo com algo que não nos traz nada, dedicamos o tempo ao que nos vai trazer tudo!

Acredita que a mente colocada ao serviço dos objetivos pessoais e profissionais é essencial para um desempenho reconhecido?

É o segredo! Tudo se resume ao nosso foco mental. Todos os dias ao deitar agradeço mais um dia maravilhoso que tive e penso nas coisas positivas que passei, nos momentos, nas pessoas que entraram de novo na minha vida, nos
sucessos, nos retornos que tive. Penso também nas coisas que correram menos bem, o que falhou e como resolver para que não voltem a acontecer. Foco-me no que quero alcançar, como o devo fazer e como lá chegar. Existem
vários livros que descrevem como o poder da mente pode funcionar na projeção da nossa vida futura e até na nossa saúde. Costumo recomendar muito aos meus pacientes um livro de um médico endocrinologista, Dr. Deepak
Chopra, que tem como título “Cura Quântica” e subtítulo “A descoberta das fronteiras da medicina mente-corpo”. Um livro maravilhoso cheio de histórias reais de pacientes, contadas por este médico, que comprovam o poder da
mente sobre o corpo. Aconselho.

Quando decidiu apostar numa empresa?

Tenho de contar-vos a história do meu primeiro negócio, a que não posso chamar empresa, pois tinha somente 10 anos. Chamei-lhe o “negócio da mala amarela”. A minha mãe ia várias vezes a congressos e uma vez trouxe-me do estrangeiro uma pasta, tipo mala de mão com uma pega, retangular. Era muito bonita e diferente, muito moderna para a altura. Levei a mala para a escola e os meus colegas ficaram impressionados, na realidade nos intervalos por onde eu passava, todos olhavam. Todos queriam andar com a minha mala nos intervalos porque era mesmo
muito “fashion”. Então decidi alugar. Custava 2,50 centavos para os intervalos de 5 minutos e 5 escudos para os de 15 minutos. Que negócio fantástico, acartavam com a minha mala e ainda me pagavam! Depressa fiz uns dinheiros
valentes pois todos queriam andar com a mala, eu tinha até uma lista de espera. Com este dinheiro decidi investir noutro negócio, até porque passado algum tempo a mala já tinha perdido o interesse. Para quem se lembra e é desta época, no início dos anos 80, à porta das escolas estava sempre alguém que vendia aqueles chupas caseiros enrolados em papel vegetal e saquetas de cromos dos desenhos animados que faziam furor na época. Na altura, a loucura dos cromos era o D`artacão. Cada saqueta trazia quatro cromos e uma figura em 3D em plástico. Andava sempre tudo à procura daqueles cromos finais, aqueles que eram os mais raros, para conseguir completar a caderneta. Nasceu assim o “negócio dos cromos”. Fiz uma proposta à senhora que vendia que era boa para as
duas. Eu comprava uma grande quantidade de saquetas de cromos se ela me deixasse “apalpar” a figura que vinha dentro. Deste modo eu podia excluir as mais repetidas e acertar nas saquetas que me interessavam. Depois abria as saquetas, ordenava por personagens e vendia os cromos e as figuras individualmente, pelo dobro do preço que tinha pago! Eu ganhava e a pessoa que comprava poupava pois obtinha o que precisava para completar a caderneta sem ter perdas.
Depressa fiz um molho de notas de 20 escudos, que gostava de contar todos os dias e escondia numa lata de bolachas, como se via nos filmes! Ainda hoje tenho algumas dessas notas guardadas. Aos 14 anos, infelizmente, com a morte da minha mãe, tornei-me empresária, pois herdei as cotas que detinha na empresa, como sócia-gerente maioritária. Esse ano escolar foi interrompido, porque fiz questão de colaborar presencialmente nessa empresa. Mas no ano seguinte prometi a mim mesma que as notas teriam de ser exemplares, e foram. Ganhei
uma bolsa e com este dinheiro abri a minha primeira empresa, já direcionada à saúde e boa forma física. Abri um ginásio, mas nunca deixei de estudar…tinha 16 anos! De dia orientava a minha empresa e à noite ia para a escola,
muitas vezes com o sono à espreita! Hoje vejo que o que fiz foi algo que não era normal, mas na altura achava-me muito capaz do que fiz e muito mais! Ao meu lado tive sempre um pilar importante, um amigo, que se tornou namorado, que se tornou marido, até aos dias de hoje. Também atleta, campeão de boxe e vencedor do troféu de “Atleta do ano”.

Sandra e o marido

Foi distinguida com o prémio “Prize to The Leader in Research and Health Sciences for The Benefit of Mankind 2021/22” pela SIISDET (Sociedade Internacional de Investigação em Saúde, Desenvolvimento Empresarial e Tecnologias). Que importância tem este prémio e que impacto teve na sua vida profissional?

Medalha de mérito (SIISDET)

Este prémio foi uma surpresa pois a nomeação foi feita por uma Sociedade Médico/Científica Internacional. Recebi um e-mail do outro lado do mundo a informar que tinha sido nomeada e tinha sido premiada com um Globo que
reconhecia a minha carreira na área da saúde de praticamente 30 anos, dedicada ao paciente. A primeira pergunta que me ocorreu foi:”Porquê eu?!” Até que percebi que tinha algo de diferente no meu percurso de vida. A diferença no meu caso, é que a medalha de mérito que é atribuída com o globo valoriza todo um percurso académico/profissional/pessoal a quem se destaque com mérito! Fiquei órfã de mãe aos 14 anos, abri uma empresa aos 16 anos, continuei sempre a treinar, a competir, a estudar, geri empresas, liderei equipas, conjuguei
a vida familiar, fiz faculdade, cresci, criei filhos, acompanhei netos, escrevi artigos para revistas na área da saúde, fiz programas de tv, fui docente, sempre tudo ao mesmo tempo e não deixei nada para trás, sempre a investir na carreira e a evoluir como empresária. Foram alguns destes factos na minha carreira que foram distinguidos como mérito. Este prémio veio, mais uma vez, confirmar que se formos realmente dedicados ao que fazemos, somos valorizados, não é o objeto em si, a medalha ou a taça, mas o significado do que fizemos para o outro ou em prol do outro! Esta medalha de mérito e o globo são atribuídos por médicos, muitos deles investigadores, especialistas de topo, que decidem que todos aqueles que dedicam as sua vidas em prol “do outro” devem ser distinguidos, porque de algum modo, fizemos a diferença ou fazemos diferente!

O que a pode diferenciar de um outro profissional de saúde na sua área?

Tenho formação académica diversificada, desde a Naturopatia, que no fundo é uma clínica geral e que me abriu várias portas de conhecimento imprescindíveis, Nutrição Ortomolecular, Nutrição Desportiva, Nutrição em Oncologia, Mesoterapia, Auriculoterapia, Laserterapia, Fitoterapia, técnicas manipulativas e Massoterapia,
Massagem Desportiva. Muitas das formações que tenho são muito direcionadas aos atletas, mas no fundo acabo por utilizar em consulta com qualquer paciente com queixas músculo-esqueléticas. Estes conhecimentos permitem-
me conciliar várias técnicas e ferramentas para fazer um diagnóstico preciso. O meu percurso e hábitos rigorosos na prática desportiva também estão patentes na minha prática clínica. Incuto ao paciente rigor e disciplina, tento que não me falhem pormenores, sou muito rigorosa no que faço, gosto de explicar ao paciente tudo o temos a fazer, percurso a percorrer, somos uma equipa com um objetivo e juntos trabalhamos para o alcançar, exatamente como qualquer treinador faz com o seu atleta ou equipa! Vejo cerca de duas centenas de pacientes por mês, a todos faculto o meu contacto, para saberem que estou do “outro lado” para o que precisarem.

Atualmente exerce o cargo de vice-presidente por Portugal no SIISDET. Que considerações tece à importância desta função? Qual o seu papel na instituição e como é que este cargo lhe permite, também, continuar a ser um membro ativo desta comunidade?

Conferencista internacional

Quando fui receber o meu prémio a Espanha, em Santander, fui surpreendia em palco, pelo Presidente Dr. Pedro Sanchez, cirurgião ortopedista, que me desafiou a aceitar este cargo. Todos os anos temos dois eventos que envolvem dezenas de oradores e milhares de participantes, sempre em países diferentes, onde se partilham conhecimentos científicos, práticas e técnicas inovadoras, instrumentos e estratégias terapêuticas recentes. Fazem parte desta Sociedade milhares de médicos de todas as especialidades e todos são importantes, porque todos têm o mesmo objetivo, cuidar do paciente! Tornei-me desta forma conferencista internacional. A minha última intervenção foi na Colômbia onde demonstrei como os aditivos alimentares podem deteriorar as nossas articulações e promover inflamação e consequentes efeitos secundários destes aditivos ingeridos em concomitância com medicamentos.

Quais os projetos que desenvolve atualmente e que queira destacar?

Continuo a seguir atletas de competição e a aplicar também a Naturopatia aos planos propostos, juntamente com a Nutrição, Suplementação e muitos deles com plano de treino. Continuo também a trabalhar em conjunto com agrupamentos escolares e levo a cabo algumas intervenções para os mais jovens, para que entendam a importância dos cuidados alimentares que devemos ter, cada vez mais. Em janeiro penso já ter acabado a formação em epigenética, método que quero implementar nas minhas consultas. Atualmente faço parte do projeto da Dra Heema Miranda, na Clínica Prestígio. Uma clínica multidisciplinar, com uma de equipa de 35 profissionais, mais de 20 especialidades e laboratório de análises. Neste contexto torna-se muito mais fácil o enquadramento de pacientes com os colegas das outras especialidades e todos juntos trabalhamos para uma melhoria mais rápida e assertiva. A verdadeira medicina integrativa, integrar o máximo de conhecimento e estratégias para atingir o equilíbrio de saúde mais rápido.

Que conselhos pode deixar às mulheres que também anseiam por construir uma carreira sólida?

Nada se consegue sem trabalho, muito trabalho, estudo, entrega total. Tracem o vosso objetivo e vejam o que é necessário para chegar lá. Não tenham medo de arriscar, mudem, avancem, troquem, mas não fiquem ligadas a
algo que não se identificam. Façam algo que amem e façam-no sempre muito bem, inovem e sejam diferentes. A diferença fará com que sobressaiam no que estão a fazer.

Agradecimentos, a quem faria?

A todos aqueles que acreditaram em mim e me deram oportunidade de mostrar o meu valor. À família que sempre me apoiou, incentivou e respeitou quando muitas vezes me isolava para estudar ou estive fora. A todos os elementos que passaram por equipas que liderei, porque me fizeram crescer. OBRIGADA. Em particular, ao meu
marido, que tem estado sempre ao meu lado, me treinou, cuidou dos nossos filhos para que eu pudesse dedicar-me ao estudo e trabalho. Sem ele seria mais difícil alcançar o que alcancei. Aos meus filhos que foram acompanhando os momentos de superação, OBRIGADA, aos meus netos e às minhas irmãs, cunhados e sogra, que
sempre me apoiaram. OBRIGADA!