“Temos um longo caminho a percorrer para uma melhor cultura de seguro”

António Feitor fundou a SECURUS Mediação de Seguros em 2015. Nove anos depois, a marca passa por uma mudança de imagem e por um reposicionamento no mercado. Chama-se agora SECURUS Consultores de Seguros. O responsável pela empresa acredita que esta nova forma de estar no mercado responde às necessidades sentidas, quer no âmbito dos particulares, quer das empresas, e destaca a importância de uma boa literacia financeira e de uma nova perspetiva de olhar os seguros para que as pessoas particulares e coletivas possam ter, verdadeiramente, as suas vidas e bens protegidos.

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A entidade reguladora dos seguros europeia acredita que uma maior literacia financeira aumentará a venda de seguros. Que considerações tece sobre este ponto de vista?

É fundamental que assim seja. Existe um desconhecimento e incompreensão generalizados de conceitos financeiros, os quais resultam na incapacidade de tomar decisões informadas sobre a gestão de dinheiro, isto quer no segmento particular, quer no empresarial. Todas as diligências que possam ser efetuadas pela entidade
reguladora europeia, nacional, Governo e rede de distribuição contribuirão para uma maior sensibilização, logo um melhor conhecimento do tema. Em conjunto, deveriam ser implementadas medidas que visem consolidar os três pilares da Segurança Social, pois, atualmente, somente o primeiro pilar contribui de forma ativa, o qual depende das contribuições obrigatórias. O segundo e terceiro pilares têm ficado aquém das expectativas, pois
no segundo os benefícios das empresas reduziram, e se recuperamos a dinâmica de fundos de pensões, o setor empresarial poderá auxiliar na sustentabilidade, bem como assegurar os complementos de reforma dos colaboradores. Já no terceiro pilar, o qual se destina ao aforro particular, devem ser criadas condições de estímulo junto da sociedade, com maior incidência nos jovens para que possam, desde cedo, ter hábitos de poupança e previdência.

Portugal é um país onde muitas pessoas que possuem seguros dos seus bens não têm, provavelmente, o adequado, pois há sempre algo que não está contemplado no seguro e que cria dificuldades, em caso de sinistro. Crê que isso acontece devido à cultura dos portugueses, de proteger apenas o que é obrigatório ou de maior valor, ou acredita que as condições financeiras da população também influenciam, em última análise, esta decisão?

A cultura e literacia de seguros tem vindo a mudar nos últimos anos. As pessoas têm vindo a criar hábitos de modo a garantir uma maior e melhor previdência. No entanto, estamos ainda longe duma cultura de conhecimento geral. Este facto tem como consequência um insuficiente investimento na proteção, pois um retomo/benefício imediato não é identificado e considera-se que o “azar somente acontece aos outros”.
Naturalmente as condições financeiras influenciam, mas são exatamente os mais desfavorecidos financeiramente que necessitam de maior investimento na proteção das suas vidas e bens. A rede de distribuição tem uma obrigatoriedade social de informar e de assegurar a cada cliente um aconselhamento personalizado.

Equipa SECURUS

Considerando os diversos acontecimentos que, ultimamente, têm assolado o país e a Europa – incêndios mais intensos, sismos e inundações mais frequentes – que adaptações têm as seguradoras de fazer para oferecerem aos clientes soluções que respondam a estes novos desafios?

São de facto verdadeiros desafios que o setor tem pela frente, não esquecendo a cibersegurança. Tem de existir uma reformulação na oferta, acompanhada por criação de fundos; um trabalho conjunto deverá ser feito com a rede de distribuição, visando a análise do cliente com maior incidência nas zonas de maior risco. Para além das necessidades de segurar o risco base, é igualmente necessária uma análise global do cliente, evitando eventuais situações de infra-seguro, podendo originar uma perda de capital indemnizatório em patrimoniais em caso de insuficiência de capital. No setor empresarial, existe um fator recorrente, em que muitas são as empresas que não têm cobertura de perdas de exploração. Em caso de sinistros patrimoniais, mesmo que estejam seguras e sejam devidamente indemnizadas pelos danos, ocorrem graves problemas a posteriori devido à paralisação temporária da atividade. Os encargos fixos mantêm-se e existe uma perda de faturação.

Quais são as áreas mais procuradas, atualmente, por quem quer contratar um seguro, que antes não tinham tanta procura?

Claramente saúde, infelizmente os problemas agravados do SNS, levam os clientes a procurar soluções alternativas. Com a ocorrência de eventos extraordinários, como inundações, sismos e recentemente os incêndios, é normal que os clientes fiquem mais sensibilizados para o risco e procurem uma revisão das condições e novas subscrições. Infelizmente, mantém-se uma tendência reativa e não proativa. Temos um longo caminho a percorrer para uma melhor cultura de seguro.

Em 2020, em entrevista à Valor Magazine, afirmou que o mercado segurador estava a mudar. Quatro anos depois, que mudanças são notórias? Que impacto tiveram no setor?

A tendência mantém-se, o mercado tem estado num processo de consolidação, quer ao nível das seguradoras, bem como da rede de distribuição. As palavras de ordem são escala e dinâmica comercial. Somente por esta via
e estratégia conseguiremos reunir condições de sustentabilidade empresarial e ter capacidade de resposta aos desafios atuais e futuros. Como consequência natural desta tendência, teremos um setor mais profissional, isento, e que assim contribuirá claramente para um maior e melhor serviço ao cliente.

Como reagiu a Securus a estas mudanças no mercado segurador?

Com muita naturalidade, pois já prevíamos as mudanças. Um plano face às mesmas fez parte da nossa estratégia inicial de crescimento e sustentabilidade em que, pelo segundo ano consecutivo, registámos um aumento de crescimento anual de 25%.

Prestes a completar 10 anos, que desenvolvimento teve também a própria Securus, ao longo do seu caminho na atividade seguradora?

Temos uma perspetiva muito positiva para 2025, em que vamos celebrar um aniversário muito especial. Temos tido um foco muito particular no crescimento sustentável, na consolidação da relação com as seguradoras, de forma a garantir uma oferta diversificada, personalizada e isenta. Estamos atentos a oportunidades de integrações / aquisições de carteiras, desde que nos revejamos no modus operandi das mesmas e nas características de incorporação. Temos atualmente alguns processos em análise que, ao concretizarem-se, vão naturalmente contribuir para uma maior consolidação e robustez da SECURUS. Muito recentemente, alterámos a nossa denominação e temos em curso um processo de alteração de imagem, incluindo o desenvolvimento de um
novo site. Estas ferramentas permitem-nos uma maior interação e melhor oferta de funcionalidades junto dos clientes. Alterámos de “Mediação de Seguros”, para “Consultores de Seguros”, mantendo o nome da SECURUS. Basicamente redefinimos o nosso conceito, de acordo com o que entendemos ser o posicionamento correto
no mercado. Um maior aconselhamento e consultoria nas soluções de seguros não obrigatórios e no segmento empresarial.

Como prevê que o mercado se comporte, nos próximos anos, na atividade seguradora?

Manter-se-á a tendência de consolidação e intensificação. Não creio que o número de profissionais se reduza, mas serão menos as entidades certificadas pelo regulador. Em suma, acentua-se a tendência dos distribuidores individuais e algumas empresas desaparecerão por via da criação de entidades coletivas e/ou integrações noutros operadores no mercado. Os meios digitais são indiscutivelmente um tema atual e de futuro. Muito já foi feito, mas existe ainda muito a realizar. A rede de distribuição tem de continuar a adaptar-se à era digital, mas coexistindo com o atendimento presencial. Existem novos riscos e desafios, para os quais o setor tem de estar preparado, revendo e formalizando uma oferta adequada. Destacamos a cibersegurança, pelos riscos de intrusão
e crime informático e igualmente pertinente, a longevidade, pelo aumento da esperança média de vida com maior atividade, acompanhando desta forma todo o ciclo de vida das pessoas, em áreas como Vida, Saúde e Acidentes.